Batismo de rocha: Os meus primeiros dias em Aveiro

Quando as pessoas pensam em Aveiro, a primeira coisa que costuma vir à mente são os canais, os coloridos barcos moliceiros e a doçura dos ovos moles. A minha chegada a esta cidade, no entanto, não foi pelos seus postais turísticos, mas por algo muito mais ruidoso e primário: o som do aço a golpear a pedra.

Aterrei aqui para os meus primeiros passos no mundo da Perforaçao em rocha Aveiro, um setor do qual sabia pouco, mas que intuía, mudaria a minha forma de ver o trabalho.

Recordo a primeira manhã com uma clareza quase sísmica. O ar ainda cheirava a maresia, mas à medida que me aproximava da zona industrial, esse aroma foi substituído por outro mais metálico, com notas de gasóleo e pó de pedreira. O meu primeiro dia não foi num escritório com uma palestra de boas-vindas e um café; foi num pátio de maquinaria onde as botas de segurança pesavam como âncoras e o capacete se sentia estranho sobre a minha cabeça.

O meu novo chefe, um homem de mãos calejadas e voz acostumada a gritar por cima do estrondo dos motores, deu-me um colete refletor e disse-me a frase que marcaria as minhas primeiras semanas: «Olha, escuta e aprende. E nunca, nunca, percas de vista a máquina».

E valha-me Deus se eram máquinas. Essas perfuradoras eram como dinossauros de metal. Vê-las operar pela primeira vez é intimidante; a forma como o martelo hidráulico devora a rocha, a vibração que se sente não só nos pés, mas no peito.

As minhas primeiras tarefas foram humildes: ajudar a carregar barras, verificar os níveis de óleo, limpar a lama de perfuração e, sobretudo, não estorvar. Aprendi rápido que este trabalho é uma coreografia de força bruta e precisão milimétrica. Aprendi a linguagem dos sinais manuais, a diferenciar o som de uma broca que trabalha bem daquele que avisa de um problema. As minhas mãos, antes suaves, começaram a colecionar calos e pequenos cortes, marcas de um ofício que exige respeito.

Essas primeiras semanas em Aveiro foram esgotantes. Chegava ao final do dia coberto de pó, com os ouvidos a zumbir apesar dos protetores, mas com uma estranha sensação de dever cumprido. Não estava simplesmente a mover papéis; estava a ajudar a abrir caminhos, a preparar alicerces, a dialogar diretamente com a terra. Estava a aprender a ser perfurador.